segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Pelé receberá cuidados paliativos em substituição à quimioterapia: entenda o que é a modalidade de assistência médica aplicada

 Cerca de 57 milhões de pessoas por ano precisam desta modalidade de atendimento que tem como objetivo o manejo do sofrimento em pacientes com doenças crônicas ou severas 

Crédito: Divulgação




Os Cuidados Paliativos ganharam destaque nos últimos dias após a notícia de que Pelé, o Rei do Futebol, não responde mais ao tratamento quimioterápico que faz em resposta a um câncer no cólon direito, descoberto em 2021. Com isso, a quimioterapia foi suspensa e o ex-jogador foi redirecionado à modalidade de atendimento que tem como objetivo o manejo do sofrimento em pacientes com doenças crônicas ou severas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o termo, desenvolvido em 1990, define a prática que tem como principal objetivo promover a qualidade de vida do paciente com doenças severas ou crônicas e das pessoas que estão ao seu redor, através do alívio do sofrimento, avaliação cuidadosa do tratamento da dor, além de outros sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.

Apesar de ter quem acredite que os Cuidados Paliativos são uma modalidade de tratamento indicado apenas para pacientes em estado terminal, a médica paliativista Silvia Seligmann, explica que os cuidados paliativos são indicados para quaisquer pacientes acometidos por enfermidades crônicas ou mal de saúde severo que potencialize o sofrimento. O meio social deste também importa e é contemplado nessa modalidade de tratamento.

Idealmente a abordagem utilizada nos cuidados paliativos é feita por uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais e assistentes espirituais, em atividades diretamente ligadas às necessidades biopsicossociais do paciente e família.

Dra. Silvia Seligmann, é quem assina a coordenação médica da equipe de Cuidados Paliativos da Assiste Vida, empresa baiana de home care que é referência nesta abordagem, ressalta que ter uma equipe multidimensional é fundamental para o sucesso nos cuidados dos pacientes. “Ter um alinhamento na comunicação é imprescindível para que a gente faça uma assistência multidisciplinar e multidimensional, dessa forma, o grande diferencial de ter uma equipe de cuidados paliativos, composta por profissionais de diversas especialidades é ter esse olhar voltado especificamente para a necessidade do paciente”, explica.

Saúde emocional é fundamental

Durante o período de tratamento que envolvem os cuidados paliativos, os valores do paciente e da família são levados em consideração, atendendo as necessidades emocionais à medida que controla os sintomas e alivia a dor. Tatiana Maita, fisioterapeuta e líder da Comissão de Cuidados Paliativos da Assiste Vida, ressalta: “Não é porque o paciente apresenta um estado de saúde irreversível, que não precisa ter uma qualidade de vida enquanto o vivencia, muito pelo contrário, quando o paciente não pode ficar bom, ele precisa ficar bem", explica.

“Em uma situação hipotética, temos um jovem paciente que sofreu um acidente vascular cerebral, o conhecido AVC, ficou com restrições motoras e funcionais significativas e está com dificuldades de aceitar essa nova condição. Nesse caso, o primeiro passo da equipe de Cuidados Paliativos é acolher e validar o sentimento do rapaz, que é completamente válido. Muitas vezes, é mergulhando no contexto junto com o paciente que a equipe entende de onde podem vir os recursos para tratamento e alinhar-se conforme as suas necessidades de cada indivíduo”, conclui a fisioterapeuta.

Cuidados paliativos no mundo

Segundo dados apresentados pela Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA), organização internacional não governamental que atua no desenvolvimento dos Cuidados Paliativos no mundo, estima-se que, anualmente, cerca de 57 milhões de pessoas precisam destes cuidados e, destes, 25 milhões estão no fim da vida, e ainda, 18 milhões de pessoas por ano morrem em dor e angústia desnecessárias, sem acesso a esse tipo de atendimento.

De acordo com um levantamento realizado pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) em 2018, acerca dos serviços disponíveis no país, a demanda por atendimento de cuidado paliativo é muito superior à oferta disponível no Brasil. Apesar de ser fundamental para pacientes em todo o mundo, as práticas paliativas ainda precisam percorrer uma longa caminhada para serem implementadas no cotidiano da população.